Por que vocês estão aqui? Foi com essa pergunta que Melinda Richter, Head Global do JLabs, a incubadora da Johnson & Johnson, encerrou o IV Encontro Internacional de Empreendedorismo e Inovação em Saúde, realizado nesta terça-feira (17), pelo Hospital Israelita Albert Einstein e pela Eretz.bio, de forma totalmente online.
Após oito horas de debates no evento que teve mais de 3.000 inscritos, o questionamento feito por Richter buscava fazer com que cada um dos empreendedores e profissionais presentes se perguntassem por que eles decidiram entrar no ramo da saúde.
A própria head do JLabs contou sua razão. No início da carreira, ela trabalhava em uma multinacional quando foi transferida para a China, enquanto estava sendo preparada para assumir um cargo de destaque naquela empresa. Antes de um evento, ela precisou ser levada às pressas a um hospital porque tinha sido picada por um inseto. Naquela noite, enquanto era atendida, ouviu dos médicos que deveria se despedir de sua família porque não havia mais nada que eles pudessem fazer por ela.
Apesar do prognóstico, ela se recuperou, mas sua vida mudou para sempre. Resolveu entrar na área da saúde e criou uma empresa para levar novas tecnologias ao mercado de uma maneira mais rápida, para que evitar que outra pessoas enfrentassem a mesma situação. “Quem vê minha carreira pensa que eu vivi 20 anos de sucesso. Mas foram 20 anos de muito sacrifício e que muitas vezes eu pensei em desistir e largar tudo. Só que aí eu volto para aquele dia na cama do hospital e lembro por que estou aqui”, disse em sua apresentação.
BIOTECH
Jun Axup, sócia na aceleradora IndieBio e que abriu o painel de Biotech no IV Encontro, contou três propósitos do seu trabalho: combater a ideia que cientistas não podem ser empreendedores, que investimento em Biotech é sempre caro e que desenvolvimento em biotecnologia é sinônimo de tratamento.
Ela também apresentou startups com passagem pelo ecossistema da IndieBio: a Tinctorium, que desenvolveu um corante azul a partir de bactérias, para tecidos como calças jeans, a fim de reduzir o uso de produtos químicos por essa indústria; a New Age Meats, que produz carne através de cultivo celular no lugar do abate de animais, e a Clara Foods, que também atua no ramo alimentício buscando produzir proteínas, por exemplo, do ovo, sem qualquer origem animal.
Ela ainda reforçou que tão importante quanto pensar na saúde das pessoas é também lembrar a saúde do planeta. Por isso, 50% dos investimentos da IndieBio são em companhias cujas soluções podem melhorar o planeta e, consequentemente, a saúde e o bem-estar das pessoas.
O meio-ambiente também foi abordado na apresentação de Gabriel Perez, sócio-gestor do Fundo Pitanga, que investe em empresas com grande potencial para transformar o mundo, como as Biotechs. Para ele, por ter a maior biodiversidade do mundo, o Brasil tem potencial de geração de bons projetos de deep tech. Perez também destacou a produção científica relevante do país em áreas como agro, medicina e aeroespacial, bem como sua presença global em setores como agricultura, saúde e minas e energia.
Por outro lado, vê alguns gargalos no processo de inovação em saúde no Brasil, tais como poucos profissionais com experiência na área, pouco apetite de grandes empresas para codesenvolvimento com startups, poucos projetos conectados às demandas da indústria farmacêutica global e fontes públicas de recurso/grants de difícil acesso.
Outro palestrante preocupado em acelerar o processo de inovação na América Latina é Pablo Valenzuela: ele comanda no Chile a Fundación Ciencia & Vida, que deve lançar um fundo de US$ 60 milhões voltado para startups de biotecnologia dessa região. Durante o IV Encontro, ele contou sua trajetória, contando para o público sobre participou do descobrimento do vírus da Hepatite C e da criação da primeira vacina recombinante do mundo para Hepatite B — desenvolvida a partir do DNA da proteína da superfície do vírus e em combinação com um vetor criado pelo grupo.
Damian O’Connell trouxe outro case internacional, explicando como a agência A*Star está revolucionando o desenvolvimento de drug discovery em Singapura. Ainda houve a apresentação de Bernard Peperstraete, CEO da Acuamark, startup sediada em Nova York (EUA), que tem como objetivo desenvolver um teste de triagem altamente preciso para detectar marcadores de câncer no sangue de indivíduos com estágios iniciais da doença.
Por fim, Paulo Lacativa, da startup brasileira BioZeus, falou sobre as moléculas sendo estudadas pela empresa para tratamento de glaucoma e disfunção erétil, entre outros. “Queremos mostrar o que os brasileiros estão desenvolvendo para o mercado global”, afirmou o empreendedor.
DIGITAL HEALTH
No período da tarde, o IV Encontro promoveu debates sobre Digital Health, tema que estava entre o mais aguardados do evento, por causa da diversidade de soluções e do seu poder disruptivo.
E nada melhor que um investidor com 20 anos de experiência no Vale do Silício para contar o que os grandes players do setor de tecnologia estão olhando no campo da saúde. Amit Garg, do fundo Tau Ventures, apontou que o assunto do momento é a Inteligência Artificial. “Temos um ponto de inflexão do crescimento de Inteligência Artificial. Agora, há muito mais dados, mais poder computacional e maior aceitação em indústrias que estavam mais fechadas, como é o caso da saúde. A Inteligência Artificial não está substituindo o profissional de saúde, está auxiliando”, avaliou.
Mensagem semelhante passou Daniel Izzo, CEO do Vox Capital, fundo especializado em negócios de impacto, isto é, aqueles que, mais do que um retorno financeiro, podem trazer melhorias para a vida das pessoas.
Para ele, impacto na área da saúde significa aumentar o acesso de população de baixa renda aos serviços, a partir de investimentos na ampliação das informações disponíveis, em telemedicina e em qualificação da oferta do serviço. “Buscamos trabalhar junto com o SUS, não substituindo-o. Para isso, olhamos para o treinamento de mão-de-obra e tecnologia para automação do serviço hospitalar”, explicou.
Enquanto Garg e Izzo representaram o olhar do investidor no IV Encontro, Maurício Craveiro Hauptmann, executivo líder de estratégia de Saúde no Google Cloud Brasil, mostrou como uma gigante tech está encarando o momento de disrupção no setor. Ele exibiu produtos desenvolvidos pela empresa e que podem ajudar os empreendedores, como processamento de linguagem natural e processamento de dados genômicos em larga escala.
Falando em inovadores, Pedro Teixeira, co-founder da Kineticos, Altug Ozdamarah, CEO da Medrics e Gabriel Schon, da Glic, foram convidados a falar como suas empresas estão trabalhando em soluções em big data, analytics e Inteligência Artificial.
CIRCUITO
Se a terça-feira foi destinada aos debates sobre o futuro da saúde nos campos de Biotech e Digital Health, na quarta-feira 20 empresas foram convidadas para participar da décima edição do Circuito Einstein de Startups. Foi a chance dos empreendedores se apresentarem diante de um público especializado, fazer networking e buscar investidores e parceiros.
As empresas foram divididas em dois grandes blocos no Circuito: Mirscience, Bio.inn, Oncotag, Aptah Bio e ZEV fizeram parte do painel de Biotech, enquanto no de Digital Health estiverm presentes Clic Health ID, Intuitive Care, Liva, UpFlux, Well Be, Entelai, Intmed, Phast, Truvio, Janitri Innovations, Medical, SafePill, LinkFit, Sleep Up e Nilo. Cada empreendedor teve cinco minutos fazer seu pitch e depois ficaram à disposição de responder as perguntas do público, que participou ativamente.