Levantar recursos para a startup é uma preocupação constante de qualquer empreendedor. Afinal, para cada passo da empresa (prototipar o produto, escalá-lo, aumentar a equipe e fazer a divulgação) é preciso gastar dinheiro.
Fundos de Venture Capital acabam sendo uma das principais opções de funding nessas horas porque conseguem aportar quantias mais elevadas — em média, de R$ 1 milhão a R$ 20 milhões, dependendo do estágio em que a startup estiver. De um lado, esses recursos dão certa segurança e estabilidade para a empresa nos meses seguintes. Do outro, vêm acompanhados de cobranças de gestão estratégica, governança corporativa, profissionalização e foco em escalabilidade do negócio.
Mas o VC não é a única opção para levantar recursos. Aliás, dependendo da fase em que a startup estiver, nem é a mais recomendada.
Renan Schaefer, sócio da startup A55, especializada em crédito para empresas de tecnologia, deu dicas de outras formas de funding durante um encontro com as startups da Eretz.bio. Confira:
CAPITAL PRÓPRIO E 3F’S
Muitas startups começam a partir do capital próprio de seus empreendedores, acumulado a partir de alguma multa rescisória, FGTS ou alguma reserva que juntou ao longo da carreira. Com esse capital se faz os primeiros investimentos no novo negócio. É a hora de sair do Powerpoint para ir ao MVP.
Geralmente, as primeiras pessoas que apoiam os empreendedores são os familiares, amigos e alguns conhecidos que acreditam na ideia (em inglês, family, friends and fools, os 3Fs). O ideal é colocar o produto no mercado o mais rápido possível para fazer os testes necessários.
“Não espere até ter um produto perfeito. Cerca de metade das startups morre porque desenvolveu um produto que não tem mercado o suficiente. Se a gente já testa logo, consegue ver se aquilo que a gente criou resolve mesmo uma dor”, diz Schaefer. “O que os empreendedores precisam mostrar nesta fase é capacidade de execução”, complementa.
EDITAIS E SUBVENÇÃO
Geralmente são realizados por fundações de amparo à pesquisa (como a Fapesp, em São Paulo) ou por alguma secretaria de Estado, ministério, BNDES ou Finep. Dependendo do edital, os valores vão de R$ 60 mil a mais de R$ 1,5 milhão. Via de regra, não é necessário devolver o dinheiro.
Em contrapartida, é necessário escrever um projeto relativamente denso para poder ser aprovado. Precisa apresentar o que vai ser desenvolvido, a importância da tecnologia para o mercado e para a sociedade, como os recursos vão ser gastos, os prazos e os marcos de acompanhamento. Além disso, é obrigatório fazer a prestação de contas.
“A primeira vez que eu fiz uma captação de recursos assim, tinha cinco caixas enormes só de documentos, como contracheques, notas fiscais. Aprendi na prática que, na hora de captar esse dinheiro, é melhor colocar no preço do projeto alguém para dar suporte na parte contábil. Isso realmente vai fazer a diferença lá na frente”, conta Schaefer.
ACELERADORAS
O foco das aceleradoras, como o próprio nome diz, é fazer com que a startup se desenvolva em meses o que poderia levar alguns anos. Elas fazem um aporte, de cerca de R$ 250 mil, em troca de participação societária, que gira em torno de 5% a 20%.
Aceleradoras oferecem metodologias estruturadas de aceleração, suporte jurídico, contábil, financeiro e de gestão, descontos em serviços de empresas como Amazon, IBM e Google, acesso ao mercado, conexão com investidores e mentores de alto gabarito. Esses contatos podem, mais para frente, abrir portas para o empreendedor.
INVESTIMENTO-ANJO
Investidores-anjo são pessoas físicas, principalmente ex-executivos, empresários ou algum empreendedor, que voltam a investir em tecnologia. Trazem, além de dinheiro, uma grande experiência de mercado, de gestão e uma rede de relacionamento muito forte. Aqui, os investimentos, em média, vão de R$ 300 mil a R$ 1 milhão.
“Uma coisa que eu sempre falo: dinheiro por dinheiro não vale a pena. O que vai ajudar um empreendedor a crescer é o ‘smart money’, ou seja, um investidor que vai ajudar a startup trazendo sua experiência, rede e acesso ao mercado e a outros investidores”, explica Schaefer.
Na hora de fechar acordo, é preciso ficar de olho na diluição da empresa. O mais comum é que de 10% a 20% da participação vá para o investidor-anjo, mas em alguns casos pode chegar até a 40%. Mais tarde, ao negociar com algum fundo de Venture Capital, se os fundadores da startup tiverem participação minoritária, pode acender o farol vermelho no negócio.
CORPORATE VENTURE CAPITAL
É a mesma coisa que o Venture Capital, mas quem está por trás da negociação é uma grande empresa. A grande diferença é o objetivo final. Enquanto um investidor comum quer a venda da startup, uma grande corporação pode se beneficiar de outras formas, como sendo cliente ou até mesmo sócia da startup.
Muitas companhias investem em startups correlatas ao seu negócio, em uma tese mais de complemento de portfólio ou de melhoria de processo. Grandes corporações costumam fazer chamadas para se relacionar com empresas de tecnologia.
CRÉDITO REEMBOLSÁVEL
É um empréstimo com taxas subsidiadas, mais baixas que as praticadas no mercado. Feito via BNDES ou Finep, é reembolsável e precisa de alguma garantia: equipamento, imóveis, aplicações financeiras e carta-fiança, por exemplo. O prazo de pagamento também é mais longo: até 24 meses de carência, só pagando juros, e mais 72 meses amortizando a operação.
Serve para financiar qualquer atividade da startup, como máquinas, equipamentos, P&D, aquisição de softwares, viagens, aumento da equipe.
“Recomendo que, se o empreendedor tiver alguma coisa que pode dar como garantia, como um carro, uma aplicação financeira, faça uma conta inversa. Veja quanto vale o ativo e divida por 1,3 para ver o quanto pode captar”, explica Schaefer.
MODELO DE VENTURE DEBT
Venture Debt é quase um híbrido entre um empréstimo e uma venda de participação. É muito comum nos EUA, mas o primeiro fundo chegou ao Brasil só em 2017.
As operações são maiores que as de empréstimo normais, de R$ 5 milhões de valor médio, e com juros mais baixos. A principal diferença é o perfil de garantia: pode ser dado máquinas, equipamento, propriedade intelectual, ações, recebíveis.
O fundo de Venture Debt ganha no chamado equity kicker. Na hora de liberar o dinheiro, o fundo vai pegar uma pequena parte da participação societária, menor que o de Venture Capital, de 1%, por exemplo, e vai ganhar no aumento do valuation conforme a startup for crescendo.
“É um crédito adaptado muito adequado para um momento transformacional da startup, quando é preciso dar um salto de crescimento, de desenvolvimento de tecnologia”, diz Schaefer.
REVENUE BASED FINANCE
Financiamento baseado em receita é o modelo de crédito que a a55, empresa da qual Schaefer é sócio. Serve para financiar o crescimento de uma empresa de tecnologia liberando os recursos sem exigir garantia em equity, em ativos, sem pedir credit score e sem juros extravagantes. Ela faz uma análise de crédito a partir de metodologia proprietária.
Nesse modelo, a empresa libera o dinheiro para o empreendedor conforme a startup for crescendo. Na contramão, uma parte da receita fica travada e servirá como garantia caso o financiamento não seja pago.