Imagine a seguinte cena. Um paciente chega ao hospital. Por Inteligência Artificial, o sistema interno já estima a probabilidade de a pessoa ser internada, qual o leito mais indicado para ela e dispara um alerta para as equipes de apoio providenciar cadeira de rodas, por exemplo, se necessário.
Pode parecer que estamos distantes de tecnologias assim, mas esse tipo de sistema é real e permite aos hospitais fazer um atendimento mais rápido, eficaz e eficiente. Para discutir inovações como essa e a transformação digital pela qual passa o setor da saúde, o Hospital Israelita Albert Einstein organizou, de 17 a 20 de novembro, o Einstein Frontiers.
O evento totalmente online recebeu cerca de 100 convidados nacionais e internacionais divididos em 50 painéis sobre Inovação e Empreendedorismo, Telemedicina e Big Data, e Cirurgia Robótica e Hospital do Futuro.
Os bate-papos não só apresentaram o que já é realidade em termos de novas tecnologias da saúde, como também buscavam antecipar qual será o impacto de novos avanços.
Uma das instituições que estão se preparando para a chegada de novas tecnologias é a americana Mayo Clinic, uma das maiores referências em saúde no mundo. Por lá, eles criaram uma divisão, a Mayo Clinic Platform, para abraçar todo tipo de solução digital.
Um dos principais convidados do Einstein Frontiers foi justamente o presidente da Mayo Clinic Platform, John Halamka. Em seu painel, explicou como os algoritmos e a Inteligência Artificial podem contribuir para diagnósticos mais rápidos e mais precisos. Um deles, por exemplo, reduziu de dez para uma hora a avaliação médica de alguns exames de imagem. Halamka também explicou que, no futuro, assistentes-virtuais, como a Alexa e a Siri, poderão contribuir para identificar possíveis doenças.
Dentro do contexto brasileiro, um dos painéis mais aguardados reuniu representantes do Einstein, Dasa e Fleury, as empresas mais inovadoras do país na área da saúde, para falar sobre a importância da inovação aberta em suas iniciativas.
Também houve espaço para que os planos de saúde digitais, Alice, Qsaúde e Sami, explicassem como têm aplicado a tecnologia para crescer e chegar a usuários que antes não tinham acesso a esse tipo de serviço.
“Já me perguntaram qual é o maior desafio da QSaúde”, disse Vanessa Gordilho, diretora-geral da empresa. “É promover a mudança de hábito, fazer as pessoas entenderem que os novos planos de saúde não são restritos ao reembolso e têm por trás o foco no cuidado.”
Ainda falando de startups, Marcos Olmos (Vox Capital), Daniel Ibri (Mindset Ventures) e Rodrigo Baer (Softbank) discutiram os investimentos recordes que o setor de saúde têm recebido e alertaram para um problema pouco falado: quando a healthtech recebe mais aportes do que estava preparada e precisa crescer de qualquer maneira, o que pode ser uma receita para o desastre.
Houve, ainda, entrevista com Josh Makower, sobre a metodologia do biodesign, e o Circuito Einstein de Startups.
O PROGRAMA EINSTEIN DE BIOTECHS
Aliás, por falar em startups, um dos momentos mais aguardados do Frontiers foi o anúncio do novo Programa Einstein de Biotechs. A partir de 2022, em uma estrutura de mais de 1.000 m² de laboratórios de alta tecnologia, localizada ao lado da unidade Morumbi, empreendedores na área de biotecnologia receberão apoio e mentorias para desenvolver suas pesquisas e levá-las até o mercado.
O programa será estabelecido a partir de quatro pilares: pesquisa translacional, empreendedorismo, incubação de startups e aceleração. Mais informações sobre como fazer parte do programa serão divulgadas no ano que vem.
A TELEMEDICINA E A ANÁLISE DE DADOS
Outra tecnologia que tem potencial para ampliar o acesso no setor da saúde é a telemedicina, que ganhou força como principal alternativa para pacientes manterem o acompanhamento médico durante o período da pandemia.
“A telemedicina trouxe de volta a proximidade entre o médico e o paciente. Lembro na minha infância que meu pai, pediatra, muitas vezes estacionava o carro para atender uma ligação de um paciente e tratá-lo. Com a telemedicina, esse contato próximo está de volta”, disse Sidney Klajner, presidente do Einstein.
Em seguida, participaram de um painel Caio Soares (Teladoc), Ana Claudia Pinto (Saúde iD), Fábio Tiepolo (Docway) e Gabriel Garcez (Conexa), sobre como essa ferramenta alavancou a saúde digital. Comentaram como a telemedicina ainda pode evoluir a partir do 5G e cobraram a rápida aprovação de um marco legal definitivo para a prática.
Já Daniel Ferreira trouxe o exemplo de como o Hospital da Luz, de Portugal, desenvolveu uma tecnologia inovadora para tratar arritmias cardíacas por telemedicina.
No campo do Big Data, as discussões foram em torno de dois grandes blocos: o respeito à privacidade dos pacientes, com leis como a LGPD, e a criação de bancos de dados estruturados e com interoperabilidade.
No Einstein, o uso de dados e algoritmos também são usados em uma central de monitoramento assistencial (CMOA). Nessa sala de operações e controle, dezenas de dados e indicadores são acompanhados em tempo real e disparam alertas para que a equipe assistencial possa fazer intervenções mais rapidamente.
“O trigger mais comum é o de medicamento atrasado. Com uma hora de atraso, um aviso é disparado. Outro trigger importante é um score de deterioração clínica de um paciente, quando a evolução dele não é positiva. Quando isso ocorrer, a equipe assistencial já recebe um alerta”, explica Claudia Laselva, diretora de Operações e Práticas Assistenciais do Einstein.
Outras inovações do chamado Hospital do Futuro envolvem tecnologias que permitem um melhor uso dos recursos, para evitar o chamado “overuse”. Isso quer dizer que o paciente recebe o tratamento mais adequado e com custos mais baixos.
Já no último painel do Einstein Frontiers, Vanessa Teich, Nan Jim Kim e Pedro Lemos discutiram como funciona a incorporação de novas tecnologias, tentando equilibrar vanguarda, riscos e custos, mas sempre com a segurança do paciente como prioridade.