Quais são as inovações que estão no limite da fronteira do conhecimento da área da saúde? E como assegurar o acesso a elas por todos os seres humanos que precisem?
Construir as respostas para essas questões foi um dos propósitos da edição 2024 do Einstein Frontiers. Organizado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, o evento aconteceu nos dias 3 e 4 de abril, em São Paulo, e contou com cerca de 600 inscritos no auditório principal e em suas atividades satélites.
E o tema da equidade em saúde esteve presente logo na palestra de abertura. Nela, Sidney Klajner, presidente do Einstein, mostrou como projetos com Inteligência Artificial estão ampliando o cuidado. Entre essas iniciativas estão o CMOA, centro para monitoramento dos pacientes internados no hospital, e o SAMPa, para que gestantes em Manaus possam ter um acompanhamento adequado, mesmo com profissionais generalistas, a partir de uma IA generativa.
Em seguida, o Dr. Klajner participou de um painel de discussão sobre as dificuldades de ampliar pelo país o acesso às novas tecnologias. A conversa também contou com Vanessa Teich, diretora de economia da saúde do Einstein, Pedro Marton Pereira, CEO da startup epHealth, e Luana Araújo, coordenadora de dados para políticas públicas do Einstein.
Eles afirmaram que no Brasil já há processos estabelecidos para incorporação de tecnologia de ponta tanto no SUS quanto no sistema privado, mas que há desafios como especificidades de cada região do país, financiamento e treinamento apropriado para os profissionais que vão manusear essas inovações.
Outra tecnologia discutida durante o Frontiers e que pode contribuir para que cada pessoa receba os cuidados que necessita são os wearables, os dispositivos vestíveis. No painel dedicado a eles, Simon Beniston, CEO da britânica MediBioSense, mostrou o device criado por sua empresa capaz de medir frequência cardíaca, ECG, temperatura corporal, saturação e atividade física, entre outros indicadores, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Já Orestis Vardoulis apresentou uma faixa desenvolvida pela americana Zeit Medical, que aplica Inteligência Artificial para reconhecer padrões de atividade cerebral (EEG) que possam indicar que um derrame esteja acontecendo e alertar o paciente para procurar ajuda médica.
A ideia é que tecnologias como wearables e telemedicina sejam capazes de monitorar e atender os pacientes de menor complexidade em sua própria residência ou onde quer que estejam. Dessa maneira, o atendimento dentro do hospital poderá priorizar os pacientes com casos mais complexos e urgentes.
Confira abaixo outras tecnologias que estão na fronteira da inovação em saúde e foram destaque no Frontiers:
CENTROS DE COMANDO
Se longe dos hospitais os dispositivos vestíveis estão transformando os cuidados com a saúde, dentro deles os centros de comando estão evoluindo o acompanhamento dos pacientes. No Frontiers, Benny Ben Lulu, head de transformação digital do ARC, do Sheba Medical Center, considerado um dos dez melhores hospitais do mundo, explicou que essas áreas combinam análise em tempo real de dados dos pacientes com modelos de predição. O próximo passo, para ele, será a automação dos processos. Já Claudia Laselva mostrou como os centros do Einstein estão melhorando a segurança e a experiência dos pacientes da instituição.
ROBÓTICA
Na área da saúde a robótica geralmente está associada aos centros cirúrgicos, mas no Einstein Frontiers o destaque foi sua aplicação na reabilitação. Em sua apresentação, José Lucas Oliveira, terapeuta ocupacional do Einstein, avaliou como esses equipamentos podem ser combinados com a realidade virtual e estão acelerando a reabilitação de pacientes. Para ele, a terapia robótica e a terapia convencional vão caminhar lado a lado. Já Alex Yeh, da Cyberdyne, mostrou os resultados do uso de exoesqueletos desenvolvidos pela empresa que representa, mas cobrou maior investimento, em termos mundiais, na área da reabilitação.
COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
Um dos temas do Einstein Frontiers que gerou maior curiosidade foi a computação quântica. Afinal, como esses novíssimos supercomputadores poderão acelerar a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias? Mohamed Ramadan, general manager & innovations development da Cleveland Clinic, considerado o segundo melhor hospital do mundo, disse que a computação quântica geralmente é associada à descoberta de novos medicamentos, mas seu potencial vai além: pode ser aplicada em campos como saúde populacional, comportamental, omics, fisiologia e exames de imagem. Já Sebastian Weidt comparou o potencial dos equipamentos quânticos em relação aos usados atualmente.
DEEPTECHS
O painel “Cutting-Edge Innovations in Healthcare” foi destinado às deeptechs, isto é, às tecnologias que estão redefinindo as fronteiras do conhecimento. Nele, Isaac Bentwich, da americana Quris.Ai, trouxe o exemplo dos patient-on-a-chip, inovação desenvolvida por sua empresa que simula órgãos do corpo humano e que tem o potencial de acelerar ensaios clínicos a partir da análise de IA.
Já Ariane Gomes explicou como a startup Baseimmune, da qual é cofundadora, está aplicando a Inteligência Artificial para criar vacinas mais eficazes e resistentes a mutações.
E Daniela Franco Bueno apresentou seus estudos sobre utilização de células-troncos presentes em dentes de leite como alternativa para tratar a fissura labiopalatina, uma má formação no lábio e céu da boca de crianças e que atualmente requer uma cirurgia complexa para ser tratada.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Como o Frontiers se propõe a discutir as tendências no setor — indo além das tecnologias –, o impacto das mudanças climáticas na saúde humana foi abordado em um dos paineis.
Nele, Eliseth Leão (pesquisadora do Einstein), Guilherme Schettino (diretor-superintendente do Instituto Israelita de Responsabilidade Social), a professora Ligia Vizeu Barrozo e o empreendedor Ricardo Sodré disseram que tão importante quanto entender como ondas de calor, poluição e desastres naturais já estão afetando o corpo humano é preparar os profissionais de saúde e as instituições para atuar em meio a situações extremas.
Além disso, durante o Einstein Frontiers 2024, ocorreu a 13ª edição do Circuito Einstein de Startups, com a presença de Bloom Care, Hoobox, IntuitiveCare, Mirscience Therapeutics, Nilo, Wecare Skin e Zeit Medical. O evento teve os patrocinadores: Brainlab, InterSystems Brasil, Johnson & Johnson MedTech, PwC Brasil, Medtronic, Strattner e Rooter Medical.