Por Dr. Gilberto Szarf*
Nos últimos anos, temos visto uma oferta crescente de soluções para radiologia baseadas em Inteligência Artificial. São inúmeras startups e grandes empresas ao redor do globo que comercializam esse tipo de produto. Depois do contato com elas, resta a decisão de contratação ou não do seu serviço. Esta pode ser uma etapa que gera muitas dúvidas, especialmente em um cenário em que os recursos são finitos e pode não haver reembolso específico para o seu uso. Ao longo do tempo, amadurecemos o processo de decisão para adoção de uma nova tecnologia, em um trabalho conjunto de radiologistas, equipe do setor de Inovação, equipe de TI e nosso escritório jurídico.
O primeiro passo é a identificação de um problema e quem se beneficiará da solução de Inteligência Artificial. Apesar de parecer óbvio, muitas vezes o entusiasmo de ver um sistema autônomo em ação pode ofuscar esta etapa. E, convenhamos, se não há problema a ser resolvido, não há justificativa nem mesmo para se realizar um teste. No entanto, se o problema de fato existir, passam a ser relevantes quesitos como indicações, contraindicações, facilidade de uso, incorporação no fluxo de trabalho, desempenho e forma de recebimento do resultado.
Além disto, avaliamos qual a estrutura da empresa para implementação da solução e se há treinamento de uso, além de sua capacidade de oferecer assistência pós-venda e quais as chances de a empresa ou startup sobreviver em médio prazo, já que muitas contam com recursos escassos.
Uma vez entendida a viabilidade da parceria, o próximo passo é garantir que a solução esteja em compliance com as políticas de segurança da informação e privacidade de dados institucionais e nacionais.
Vencida essa etapa, passamos para o teste em si. Pode acontecer que o desempenho anunciado pelo fabricante não corresponda ao resultado que iremos encontrar nos nossos ambientes de trabalho, pois o treinamento do algoritmo pode ter sido realizado com casos diferentes dos encontrados em nossa instituição. Conhecer o desempenho e reconhecer possíveis tendenciosidades é fundamental para sabermos o que esperar e quais as limitações do produto que tencionamos contratar.
Esse processo rigoroso é fundamental para definirmos em quais projetos vamos colocar nossos esforços. Em parceria com a área de Inovação, já avaliamos tecnologias de várias parte do mundo, e pouco mais de 60% delas de fato chegaram à fase de testes.
Todo este trabalho é mais facilmente desenvolvido por uma equipe, cujos componentes têm diferentes habilidades e formações, cada um contribuindo de diferentes formas para uma adoção responsável destas ferramentas.
—
*Dr. Gilberto Szarf é médico radiologista e gerente médico do Departamento de Radiologia do Einstein.