Glic: conheça a trajetória da startup que cresceu engajando pessoas com diabetes e foi adquirida pela Afya

30/08/2022 Glic: conheça a trajetória da startup que cresceu engajando pessoas com diabetes e foi adquirida pela Afya

Um dos principais desafios no enfrentamento de doenças crônicas é a educação dos pacientes. Afinal, estamos falando de condições que podem acompanhá-los pela vida toda.

É nesse contexto que surgiu a startup Glic, incubada aqui na Eretz.bio e que atua no apoio de pacientes com diabetes nos diferentes aspectos de sua vida. No fim do primeiro semestre de 2022, a Glic foi adquirida pela Afya.

“Não é nada fácil ter diabetes. É um trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana, que envolve cada atividade que fazemos”, diz Claudia Labate, CEO da startup. “Além disso, o tratamento do diabetes é considerado um dos mais complexos da medicina, pois o paciente precisa tomar uma série de decisões, diariamente, sozinho”, completa.

A Glic desenvolveu um aplicativo que conecta médicos, nutricionistas e pacientes para facilitar o tratamento e o acompanhamento à distância. Entre suas funcionalidades estão prontuário eletrônico, relatórios detalhados do tratamento, alterações da prescrição, contagem de carboidratos e demais nutrientes, lembrete de medicamentos e cálculo de dose de insulina.

“Sem a Glic, o paciente costuma chutar ou estimar uma dose de insulina. Só que, se aplicar uma dose mais alta do que o necessário, pode gerar hipoglicemia (quando a glicose fica abaixo do esperado). Já com uma dose menor pode gerar uma hiperglicemia (quando a glicose fica acima do esperado). Em ambos os casos, pode ser perigoso. Uma glicemia muito baixa, se não corrigida a tempo, pode levar ao coma e ao óbito. Uma muito alta leva a complicações como retinopatia e amputações, entre outras”, explica a CEO da startup.

Além de uma fundadora endocrinologista e PhD, a Dra. Karla Melo, que tem diabete tipo 1 desde a infância, a liderança da Glic conta com Labate, psicanalista e bacharel em marketing, e com Gabriel Schon Moreira, o COO da empresa, graduado em ciências sociais com experiência em gestão de projetos.

Por trazer habilidades complementares às da área da saúde, a formação deles casou-se com o desafio da startup de acompanhar os pacientes de uma doença crônica, como é o caso do diabetes, e também de engajá-los no aplicativo e, consequentemente, no tratamento.

A história da startup Glic

“Antes de entrarmos para a startup Glic, eu já convivia com a Claudia havia mais de dez anos”, conta Moreira, o COO. “Juntos, decidimos abrir um espaço de coworking que tinha como diferencial fomentar as startups residentes com marketing digital a partir da nossa experiência profissional. Quem começou a frequentar o espaço foi o Gilberto Almeida Gonçalves, que era um investidor-anjo da Glic. Nessa época, a startup já existia e se chamava Gliconline, sistema que foi idealizado pela Dra. Karla Melo desde 2004.”

“Com a Glic, acabamos nos envolvendo ainda mais por diabetes ser um tema que toca tanto a Claudia, que tem DM1 desde os dez anos, quanto a mim, que tenho um pai com DM2. Então, de alguma forma, sinto que posso estar sempre ajudando pessoas como eles, que são fundamentais para mim”, acrescenta.

Já Labate contemplou a história de sua própria família para decidir seguir carreira empreendendo no enfrentamento do diabetes. 

“Quando contamos que temos diabetes, quase sempre alguém conhece uma história muito triste. Eu mesma tenho uma assim. Quando era criança, me contaram sobre um bisavô que caminhava até o Mercadão, em São Paulo, comprava peixe e passava de casa em casa vendendo os peixes. Achavam que por ele andar tanto as pernas foram gangrenando. Por isso, precisou amputar do dedinho do pé até chegar ao tronco, então veio a falecer. Hoje, consigo entender que muito provavelmente ele tinha DM2 e nunca foi diagnosticado nem pôde tratar. Infelizmente, histórias assim ainda se repetem no mundo todo, e não é mais aceitável a gente deixar isso acontecer”, diz.

Labate e Moreira, então, somaram sua expertise aos dos sócios da Glic e passaram de mentores em marketing para líderes.

“Vimos a Glic sair de 500 usuários para 5.000 e continuar crescendo. Estávamos completamente envolvidos: criando plano estratégico, OKRs etc. em uma startup feita por pessoas com diabetes para pessoas com diabetes. Eu já estava ali liderando esse movimento, então só tivemos que nomear o cargo”, lembra Labate, que se tornou a CEO da empresa.

Segundo dados do mercado de inovação, são poucas as startups do ecossistema no Brasil com uma mulher na liderança. Além disso, as que têm ao menos uma mulher como cofundadora tende a captar apenas uma fração dos investimentos recebidos pelas empresas somente com homens em seu quadro societário.

“Ter uma sócia médica talvez tenha facilitado nesse sentido. É difícil apontar que alguém possa deixar de investir na gente por sermos uma startup liderada por uma mulher, porque ninguém jamais nos diria isso”, avalia Labate. “O que aconteceu muito nessa trajetória, em diferentes contextos, foram pessoas se dirigindo apenas ao meu sócio, o Gabriel, ao falar do negócio”, recorda.

Após a passagem pelo espaço de coworking de Labate e Schon, a Glic continuou em sua trajetória ascendente. Os 5.000 usuários se tornaram 50 mil, o aplicativo passou a ser gratuito para todos os usuários e, desde 2020, a startup passou a fazer parte do programa de incubação da Eretz.bio e foi investida pelo Einstein.

Em 2021, a Afya notou a expansão da Glic e iniciou as conversas para adquiri-la. Em sua nova casa, a startup atuará no pilar de relacionamento entre médico e paciente com o objetivo de criar uma plataforma de diabetes com foco nos usuários.

Da sua passagem pela incubação na Eretz.bio, os empreendedores destacam as trocas de experiência com a comunidade. Uma delas foi a participação em nosso clube do livro. Na época, a obra discutida foi Secrets of Sand Hill Road, considerada uma referência sobre como funciona a indústria do Venture Capital. “Passar aquelas semanas aprendendo mais sobre VC foi uma aula de valor inestimável”, diz Labate.

A casa mudou, mas nessa nova fase a Glic continuará focada em seu objetivo de um mundo sem complicações de diabetes. “Como diria o autor Simon Sinek, é um jogo infinito, que estava aqui antes da nossa chegada e muito provavelmente vai acabar existindo depois que partirmos”, conclui a CEO.

Claudia Labate (em pé, à esq.), Gabriel Schon Moreira (agachado) e equipe Glic – foto: nathalia de souza santos